terça-feira, 2 de outubro de 2012

Podíamos sonhar a dois


Podíamos sonhar a dois.
Mesmo que, enfim, acordássemos para uma beleza esquecida.
No fundo, saberias que o que nos causa dor é somente em que cremos;
E, às vezes, o amor, é feito de meia dúzia de reminiscências
E copos vazios à sombra de dois carvalhos.

Nem sequer faz falta uma mão ausente; Nem dois braços em forma de cepo
Quanto mais pensar em cabelos esvoaçando ao vento.
Não sabemos imaginar que o teu cabelo é dourado,
Porque somos completamente inóspitos e serenos;
Nem sabemos apagar as velas e ficar à espera que o mar desapareça em surtos de espuma.
Em suma, é o que imaginaremos sempre que tudo se esfuma:

Deixa os pés embaterem com força na frieza do areal
E a maresia penetrar-te como o silêncio dos seixos.
Arredonda-te então aos soluços de Éter
E deixa que Eris te fale aos ouvidos
As palavras que nunca te direi.

Ouves a canção que sai dos dedos meus dedilhando as cordas?
É na noite que as ondas não-electromagnéticas se propagam na tua peugada.
O que sinto fundamentalmente é falta de Helios.
Minha irmã, minha Saudade, meu céu azul roçando a Serra,
Dá-me o meu sangue atiçado a ouro
Espirrando em velas de Caravela.

Eu, tu, e o maremoto que Atlante causava ao ver-nos passar.
Meu amor, minha caravela, meu corvo negro pousado na proa,
Fazes-me sentir Paris sentindo Lisboa.
Meu veludo que sopra o fumo azul ao cigarro, minha almofada,
Meu tudo e meu nada.

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