quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Meu amor, lembras-te de quando tinha mil e um nomes para ti


Meu amor, lembras-te de quando tinha mil e um nomes para ti? E depois desapareceram todos, como se uma nuvem de nevoeiro os esfumasse. É quase esclarecedor que te veja aos percalços por entre as pedras da calçada sem ninguém para te segurar, como se eu fosse o teu ponto de suporte, o teu ponto de equilíbrio.
Resta-me, contudo, questionar-te sobre as nossas opções. É que a mim causa-me transtorno e faz-me espécie ver-te numa espécie de limbo. Na realidade, só gostava de ver-te feliz, e a sonhar aos pedaços e, no entanto, essa visão parece-me desafogada de um mundo relativamente existente. Fazes-me falta; e nem sequer tenho forma de te dizer olá. Fazes-me espécie; e nem sequer tenho forma de te fazer sorrir ou sentir melhor.
E se fôssemos os dois ali ao quebra-mar, será que me pegavas na mão e a colocavas por cima do ombro, e os teus cabelos cor de prata a esvoaçar nos braços de Selene. Será que fazíamos uma espécie de consternação semi-celeste com trinta constelações diferentes e nos fundíamos em Saturno ou Júpiter à procura de uma vida melhor, um mundo melhor para duas pessoas melhores; melhores do que todas as outras.
Questiono-me ainda se seremos realmente melhores; é que em metades não somos nada, e completos somos menos ainda. Na verdade, fico feliz de não poder dizer-te nada porque nem saberia o que te dizer; e fico feliz de não poder fazer-te feliz porque nunca saberia fazer-te feliz. Esse teu mundo está tão longe do meu, e tão perto.
Nem sequer existem quilómetros quadrados a separar o que fazemos, e nem sequer me atormenta essa ideia; apenas nos meus momentos criativos me transformo noutro ser: mais perfeito, menos óbvio, mais introvertido e menos obrigatório. Olha, mulher, menina, qualquer ser que me assalta os sentidos, tinha tanto para te dizer e subitamente tenho tão pouco; tão pouco que te descreva as pestanas, tão pouco que te destrua as faces.
Agora, que estou deitado à busca de palavras, busco-te por entre as minhas ideias. Meu amor, apanha o meu navio; voguemos pelo Atlântico à busca de outras palavras que eu não tenha para te dar, em vez de desperdiçar as solas dos sapatos em percursos inúteis e os ouvidos em discursos ridículos.
Vamos os dois ver Lisboa ao largo, enquanto me abraças e eu te abraço. Vamos ver Belém e o Tejo em espirais de fumo; zarpar numa embarcação de ferro fundido rumo a Barcelona, desaparecer em sombras de cigarros e jurar que, de uma vez por todas, um dia sequer existirás em mim.

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