Meu amor,
lembras-te de quando tinha mil e um nomes para ti? E depois desapareceram
todos, como se uma nuvem de nevoeiro os esfumasse. É quase esclarecedor que te
veja aos percalços por entre as pedras da calçada sem ninguém para te segurar,
como se eu fosse o teu ponto de suporte, o teu ponto de equilíbrio.
Resta-me,
contudo, questionar-te sobre as nossas opções. É que a mim causa-me transtorno
e faz-me espécie ver-te numa espécie de limbo. Na realidade, só gostava de
ver-te feliz, e a sonhar aos pedaços e, no entanto, essa visão parece-me
desafogada de um mundo relativamente existente. Fazes-me falta; e nem sequer
tenho forma de te dizer olá. Fazes-me espécie; e nem sequer tenho forma de te
fazer sorrir ou sentir melhor.
E se
fôssemos os dois ali ao quebra-mar, será que me pegavas na mão e a colocavas
por cima do ombro, e os teus cabelos cor de prata a esvoaçar nos braços de
Selene. Será que fazíamos uma espécie de consternação semi-celeste com trinta
constelações diferentes e nos fundíamos em Saturno ou Júpiter à procura de uma
vida melhor, um mundo melhor para duas pessoas melhores; melhores do que todas
as outras.
Questiono-me
ainda se seremos realmente melhores; é que em metades não somos nada, e
completos somos menos ainda. Na verdade, fico feliz de não poder dizer-te nada
porque nem saberia o que te dizer; e fico feliz de não poder fazer-te feliz
porque nunca saberia fazer-te feliz. Esse teu mundo está tão longe do meu, e
tão perto.
Nem sequer
existem quilómetros quadrados a separar o que fazemos, e nem sequer me
atormenta essa ideia; apenas nos meus momentos criativos me transformo noutro
ser: mais perfeito, menos óbvio, mais introvertido e menos obrigatório. Olha,
mulher, menina, qualquer ser que me assalta os sentidos, tinha tanto para te
dizer e subitamente tenho tão pouco; tão pouco que te descreva as pestanas, tão
pouco que te destrua as faces.
Agora, que
estou deitado à busca de palavras, busco-te por entre as minhas ideias. Meu
amor, apanha o meu navio; voguemos pelo Atlântico à busca de outras palavras
que eu não tenha para te dar, em vez de desperdiçar as solas dos sapatos em
percursos inúteis e os ouvidos em discursos ridículos.
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