sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Não me apetece perder tempo


Não me apetece perder tempo; não contigo e não agora.
O tempo que passa é breve e perde-se tão fugazmente
Nos balanços desse teu Sol. Nem sequer sou capaz de medir
Em tempo as tuas filosofias; antes medir os teus silêncios,
Que são mais profundos e dizem-me tão mais de ti que as tuas palavras ocas.
Não é uma questão difícil, recorda-te da tua superioridade,
Recorda-te da tua própria vida e da tua mortalidade e faz-me crer que sim,
Que também sou mortal – pelo menos às vezes – e amoral na maior parte dos casos.
Não te peço que nos juntemos para crer em Deus, até porque seria contraproducente,
Puxávamos para o mesmo lado e chegávamos simplesmente à conclusão de que é impossível
Crer num Deus que não sabe dançar, nem cantar, nem mexer os braços.
Minha onda no Tejo; meu mar, meu sangue, minha Lusitânia em forma humana,
Não me deixes perder-me em ti nem pegar-te na mochila;
Nem eu nem tu aguentaríamos esse esforço, nem que torcêssemos o pescoço
E provável seria que nos estatelássemos no solo. Aliás, é todo esse o meu problema,
O chão, sempre o chão, o fogo no chão e a água que vai caindo no chão.
Chove, Lisboa. Chora por mim. Por ti, e por Ela, por Nós, por Vós que ides
Caindo no chão à medida que passo; Nem eu nem tu somos sós, amor-cidade minha,
E vêm de todo o lado para nos ver sonhar acordados.
Gosto de ti no Outono; mas dispenso-te no Verão. Amo-te no Inverno.
És Portugal na perfeição de ser intenso, imenso e bruto Portugal, forte e doce Portugal,
Na grande família de ser-se perto estando-se longe, tão mais longe.
Deixa de me fazer sonhar, por favor. Peço-te encarecidamente.
Já me chega esta sensação de estar a cair num poço de que nem vejo o fundo,
Se bem que eu, como o poeta, tenho a tendência a dormir com uma e sonhar com mais de mil.
Em suma, não venhas tarde. Vem a tempo e levanta os olhos do chão; faz-me espécie
Ver-te triste.

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