Desci,
Desci as escadas em lanços de quatro e esperei por ti no vão
- olhei para cima mas não te encontrei.
Olhei em volta buscando um princípio novo quando todos os fins gritavam que não mais te deixasse partir e partiste, assim, sem deixar senão a treva do teu sorriso que grita à Luz como a clareira que se abriu no meu peito;
Sorri à lâmpada suspensa por um pequeno fio, condutor energético agarrado ao tecto por um pequeno orifício, e mirei dentro de mim tudo o que havia ficado por te oferecer;
Atingiu-me a claridade as pupilas com a força incandescente de fósforo e o céu abriu-se diante dos meus olhos, em pleno silêncio quando a morte caminha pelos campos ao crepúsculo do dia, quando a noite ainda é uma miragem perfeitamente plausível nos trilhos da existência;
Sonhei que esperava por ti à beira-mar, ou rio, ou qualquer outro troço aquático que se perfila por um local qualquer e em breve o som da ondulação a quebrar-se contra a areia das praias se tornou real a meus tímpanos;
Tudo em mim foi vida e rigor, chama e incenso; quebraste-me com a mesma lucidez com que se desmembra um brinquedo e em mim, nada mais foi a certeza de comunidade; Tu, envolta em lenços cor de alfazema, abraças-me ao som da maresia que me enche os pulmões e o sabor da tua pele é como mel a meu tacto azedo;
Eu, que fora Midas sem desejar, que tomara por compromisso tudo quanto nunca fora oiro, doirava agora no teu abraço à espera desse braço que chegaria mais tarde, muito mais tarde;
Quebraste o encanto quando os meus olhos se abriram à força de sentir o teu peso nos meus braços, e me alumiaste os sentidos com o teu espírito doce; compreendia então que a alfazema nada mais foi que o encarnado do teu gemido ténue sob e sobre o creme do algodão que te cingia o corpo;
O ruído da ondulação nada mais foi que o corte que o projéctil propagou no ar; É tudo quanto somos: ferro e luz; E todo o amor que sinto por ti esvai-se-me por entre os dedos como o meu e o teu espírito; E ele é encarnado, o meu e o teu ou o nosso, pois se misturaram enfim.
Tão bonito, senti-me encantada neste "conto" de fadas, mesmo que não fosse esse o intuito, foi para onde me levou...
ResponderEliminarobrigada
beijinhos
Muse
Obrigado Muse
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