Andámos pela beira dos sonhos até nos perdermos das mãos que nos empurram aos dois. Enquanto perdíamos a conta aos pedaços que se desprendiam de nós, lembrei-me dos dias que fugiam por entre os dedos. As nuvens clareiam no alto dos céus e gritam abaixo as apetências divinas que vivem por entre as suas mangas. A chuva enxagua o que deixamos correr, e corre somente para onde não somos capazes de o encontrar de novo. Matam-se os braços das dores dos abraços e as pernas movem-se sós, incapazes de seguir o caminho. Vive-se a Luz, enquanto a luz dura, e quando se apaga, apagamo-nos também, tristes errantes, que não sabem encontrar o trilho, com as pernas ou sem a ajuda delas, fugimos de nós porque não somos capazes de viver sem lidar com o destino; e é nesta fuga que descobrimos o que vive dentro de cada um, um do outro, e desejamos não o saber, não mais ser portadores ou prospectores. Sonhamos prosseguir os objectivos, cada lado para o seu lado, cada vértice para o seu vórtice, sonoros caminhantes pelas ruas fora.
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Acordo dos céus a troco de nada, um poema desconexo sobre artes e letras; sem saber o que ao certo me faz caminhar por esses campos fora, sonhando com o mar enquanto vejo verde, e com oliveiras se miro o rio.
Agora que passam três anos da última vez, renuncio à carne por nome de um bem maior; Lá do outro lado, fará sentido ver tudo de um prisma diferente, mais real – mas quem sou eu para falar de realeza, quem sou eu para falar de outros prismas se acredito no que já se dizia há uns anos, “eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida.”.
Onde quer que vá, reage mal o mar aos meus anseios; onde quer que me mova, o solo quer-me por ser diferente. E assim se caminha, por entre vagas de tormenta e areais a perder de vista, assim se apreende, por entre ondas de espuma e cabos de fim-de-mundo.
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