domingo, 12 de dezembro de 2010

Devaneios.

Sorriste ao apertar-me a mão e eu sorri-te de volta, 
Larguei esse aperto e voltei a mergulhar.
Nos olhos de avelã onde o sonho dorme eterno, 
Rasgo o peito às gotas da chuva a cair.
Lisboa, das colinas e dos carris, 
Onde o Tejo embate com a força da saudade,
Só em Português existe esta faculdade de se sentir falta do que se não tem, Tendo.
Dos estampados ao tecido, no titânio das argolas, 
Luz-me dos teus cabelos, esse Sol das conquistas. 
E Éter, ao banhar-me, retoca-me as pestanas e embala-me
O sono com Selene a raiar no Infinito.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

D

Vamos ter sempre o olhar
Onde não há ninguém
Valeu a pena voar
Estava escrito.
E a noite veio acordar
A guerra de sentidos travada num céu

Ainda fazes falta, Latika. Até no blogspot.

Foi como um sopro estranho,
Aconteceu.
És noite em mim

domingo, 21 de novembro de 2010

Podes vir amanhã, acreditar no mesmo deus.


Andámos pela beira dos sonhos até nos perdermos das mãos que nos empurram aos dois. Enquanto perdíamos a conta aos pedaços que se desprendiam de nós, lembrei-me dos dias que fugiam por entre os dedos. As nuvens clareiam no alto dos céus e gritam abaixo as apetências divinas que vivem por entre as suas mangas. A chuva enxagua o que deixamos correr, e corre somente para onde não somos capazes de o encontrar de novo. Matam-se os braços das dores dos abraços e as pernas movem-se sós, incapazes de seguir o caminho. Vive-se a Luz, enquanto a luz dura, e quando se apaga, apagamo-nos também, tristes errantes, que não sabem encontrar o trilho, com as pernas ou sem a ajuda delas, fugimos de nós porque não somos capazes de viver sem lidar com o destino; e é nesta fuga que descobrimos o que vive dentro de cada um, um do outro, e desejamos não o saber, não mais ser portadores ou prospectores. Sonhamos prosseguir os objectivos, cada lado para o seu lado, cada vértice para o seu vórtice, sonoros caminhantes pelas ruas fora.

*

Acordo dos céus a troco de nada, um poema desconexo sobre artes e letras; sem saber o que ao certo me faz caminhar por esses campos fora, sonhando com o mar enquanto vejo verde, e com oliveiras se miro o rio.
Agora que passam três anos da última vez, renuncio à carne por nome de um bem maior; Lá do outro lado, fará sentido ver tudo de um prisma diferente, mais real – mas quem sou eu para falar de realeza, quem sou eu para falar de outros prismas se acredito no que já se dizia há uns anos, “eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida.”.
Onde quer que vá, reage mal o mar aos meus anseios; onde quer que me mova, o solo quer-me por ser diferente. E assim se caminha, por entre vagas de tormenta e areais a perder de vista, assim se apreende, por entre ondas de espuma e cabos de fim-de-mundo.

Eu sou de letras, não me sei dividir. Para mim um balanço é mesmo balançar, balançar até dar balanço e sair.

Pedes-me um tempo,
Para balanço de vida.
Pedes-me um sonho,
Para fazer de chão.

Agarras a minha mão com a tua mão
E prendes-me a dizer que me estás a salvar.
De quê?
De viver o perigo?
De quê?
De rasgar o peito com o quê?
De morrer? Mas de que paixão?
De quê, se o que mata mais é não ver o que a noite esconde e não ter nem sentir o vento quente a soprar o coração.

Pedes-me um sonho 
Para juntar os pedaços.
Mas nem tudo o que parte
Se volta a colar.

sábado, 20 de novembro de 2010

Cor, se rosa


Sou a mariposa, bela e airosa, que pinta o mundo de cor-de-rosa;
eu sou um delírio do amor. 
Sei que a chuva é grossa, que entope a fossa, que o amor é curto e deixa mossa.
Mas quero voar, por favor.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Stand by me - E sim, o título, curiosamente, tem signatária

Olhei,
Olhei para o vento e para os caminhos que sopravam o pó dos passos;
Revi-me nas direcções e sussurrei à lua, enquanto me quebro por esses momentos e a porcelana estala, a madeira apodrece entre as calhas da vida; quanto mais me engano, entendo que não há que viver e o pó voa mais fino, as pupilas dilatam transformando o verde em amarelo, felino dourado talvez, onde quer que se veja a sofreguidão estarei eu
- e talvez tu, onde quer que se vejam no olhar
desse olhar tão mais profundo.
Dispo a camisa e abro o peito à chuva, saltam-me as gotas ao invés das lágrimas frias, entre outros pedaços de fio tão acabados como o primeiro da fila. Soçobrando, exausto e retalhado, entrevejo o meu corpo ao abandono de Éter, compreendendo tão profundamente como no primeiro dia
- somos marionetas, de fio e de corda, madeira e verniz. Somos de quem nos fez, mas nunca ninguém nos quis.

domingo, 14 de novembro de 2010

Hoje, enquanto fumava um cigarro com dois grandes amigos, à beira-rio, dei comigo a pensar que tinha de passar o resto dos meus dias com alguém muito importante para mim. E se esse alguém nunca chegar? Pior, se o toque o tiver afastado para longe de mim?

O Sol quando nasce não é para todos. É só para quem tem a pele nívea de não conhecer a ternura.

sábado, 13 de novembro de 2010

Obrigo-me ao tempo


Obrigo-me ao tempo como um novelo às garras de um gato;
Quando corro para muito longe, descubro que tenho trajectórias elípticas e que os meus pés nunca saem do meu peito
- nem do teu.
Dançamos pela noite fora, uma valsa sem começo nem princípio, sem apelo nem agravo e dou comigo a mirar as estrelas em busca do que foi um dia o teu alfa, pois haveria de chegar o teu ocaso sem que eu me apercebesse e desapareceste assim, como Selene quando principia o dia ou Helios quando este finda.
O nosso amor é um combate
- e eu magoo-me só de observar a esgrima,
Em noites em que o peito me dói até que o mural dos teus cabelos chega e me guia adonde eu for. E todas as luzes que ladeiam o caminho cegam. E todas as estradas que correm pelo caminho se desviam. Há tanta coisa que eu queria dizer-te mas não sei como. E apesar de tudo, apesar dos traços, sei que é quando encarna o meu olhar que a discórdia que vive em mim se apodera das rosas no teu regaço.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quando acredito não sinto vontade de chorar


Quando se sobe mais alto é quando se tem mais medo de cair
- por isso é que me agarro aos ramos, na esperança que suportem o meu peso.
Ecoam os passos na minha cabeça, o silêncio produz um ruído quase espectral.
E é neste limbo entre o querer e a ilusão que compreendo que sou pagão porque a Revelação não é capaz de definir aquilo que me dá mais prazer.

Repicam os sinos no carrilhão da catedral. Visto-me de negro, bem alegre no meu luto, e saio para a rua à procura dos sinais que perdi entre os botões da camisa. Apercebo-me que tenho os sapatos desenlaçados, mas quando me ergo tenho os olhos toldados do sangue que me inunda os olhos.

Tremiam-me as mãos enquanto puxava os cabelos. Estranho como são precisos tantos segundos a fugir deste mundo para compreender o quanto desejo rever-me nele.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O Sol quando nasce não é para todos.
 Só para quem não tem os pés feridos de 
saltar para tirá-lo detrás das nuvens.


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Quebrou-se a porcelana

Comemos do Graal da insatisfação, pobres mendigos à espera de abrigo sem saber o que é ao certo mas com toda a certeza que o saberão quando a Luz incidir pelas fissuras das paredes.
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós e deles também, piedade do que foi e do que podia ter sido, do que nunca foi erigido em nome de ninguém.
O Homem morre e mata por amor mas é pelo ódio que se consome quando o silvo embate em César e se espalha pela areia do chão. O Homem vive por amor, mas por ele não será uno nunca, no ódio vive só pois consome-se da forma que bem lhe aprouver. Amai o próximo, dizem os falsos profetas, armados do Livro da Ressurreição, empunhado bem alto como um farol aceso.
Bendita sois vós, serpente dos meus cabelos, habita-me o peito aceso em Selene e canaviais. Bendita sois vós, até à exaustão, caminhai por nós, em nós, de nós para nós ao ocaso desse crepúsculo ausente.
Primaveras e amores virão, calcorrearão este ermo como víboras e hão de destruir o amador transformando-lo na coisa amada. Bendita sois vós que caminhais sem pecado, pois no vosso ventre se desenrola a semente do amor profano de Samael e Madalena.

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Um, Um, Zero e Sete. Deus, Deus, a Inexistência e a Perfeição. 
Combinam-se na imiscuidade semi-sensata de uma profecia leviana e imprecisa. Vós, que fostes concebida sem pecado, tirai o pecado de nós, exorcizai-lo de mim. 

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Seiscentas e dezasseis maneiras de dizer que também sou filho do cordeiro, mesmo que Atropos me jogueteie como um filho da puta. 
Lakhesis, tu que me contas, faz-me ser a décima parte de algo que seja elevado à décima. Nessa semi-obscuridade do duplo algarismo seremos somente um, tu e eu, pois um e um são dois.
Nona, concebida no seio, chamai-me a ti e marcai-me de nove pontas; endereçai a águia que jaz no topo do teu ceptro ao meu receio e transformai-me nesse que temem os santos e as pudendas, semitas e sionistas; Estígio fado, de mim em teu feitiço, obscurecei-me pela tua luz negra.

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Ele está no meio de mim.

Variações - de humor

Eu nunca vi, não conheci. Nunca vi, não conheci.
Nunca vi.
Eu não vou, não estou. Não vou. Nem estou.
Mas sou melhor que nada.
É o tempo nem o tempo. Eu que busco a oitava maravilha
Fica a cair sem resistir nessa tua mão
deserta.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Este post tem signatário

Hoje corri da beira-rio à beira-mar só para dizer a mim mesmo que                                                                                         já não controlo os joelhos

domingo, 7 de novembro de 2010

Quando desci do palanque já tinha saudades de Bea

Desci,
Desci as escadas em lanços de quatro e esperei por ti no vão
- olhei para cima mas não te encontrei.
Olhei em volta buscando um princípio novo quando todos os fins gritavam que não mais te deixasse partir e partiste, assim, sem deixar senão a treva do teu sorriso que grita à Luz como a clareira que se abriu no meu peito;
Sorri à lâmpada suspensa por um pequeno fio, condutor energético agarrado ao tecto por um pequeno orifício, e mirei dentro de mim tudo o que havia ficado por te oferecer;
Atingiu-me a claridade as pupilas com a força incandescente de fósforo e o céu abriu-se diante dos meus olhos, em pleno silêncio quando a morte caminha pelos campos ao crepúsculo do dia, quando a noite ainda é uma miragem perfeitamente plausível nos trilhos da existência;
Sonhei que esperava por ti à beira-mar, ou rio, ou qualquer outro troço aquático que se perfila por um local qualquer e em breve o som da ondulação a quebrar-se contra a areia das praias se tornou real a meus tímpanos;
Tudo em mim foi vida e rigor, chama e incenso; quebraste-me com a mesma lucidez com que se desmembra um brinquedo e em mim, nada mais foi a certeza de comunidade; Tu, envolta em lenços cor de alfazema, abraças-me ao som da maresia que me enche os pulmões e o sabor da tua pele é como mel a meu tacto azedo;
Eu, que fora Midas sem desejar, que tomara por compromisso tudo quanto nunca fora oiro, doirava agora no teu abraço à espera desse braço que chegaria mais tarde, muito mais tarde;
Quebraste o encanto quando os meus olhos se abriram à força de sentir o teu peso nos meus braços, e me alumiaste os sentidos com o teu espírito doce; compreendia então que a alfazema nada mais foi que o encarnado do teu gemido ténue sob e sobre o creme do algodão que te cingia o corpo;
O ruído da ondulação nada mais foi que o corte que o projéctil propagou no ar; É tudo quanto somos: ferro e luz; E todo o amor que sinto por ti esvai-se-me por entre os dedos como o meu e o teu espírito; E ele é encarnado, o meu e o teu ou o nosso, pois se misturaram enfim.