À minha mãe, que me deu tudo o que sou,
E o que já fui, e o que serei. E o que nunca fui também.
Por me teres ajudado nas más alturas; agora sei que precisas, mais do que nunca, de mim.
Porque te amo, mãe. Porque posso não o ter demonstrado amiúde, mas sempre te amei.
E, acima de tudo, porque me deste vida. Porque me deste, acima de vida, uma vida.
E porque serás, acima de tudo o resto, sempre a mulher da minha vida.
domingo, 5 de maio de 2013
sábado, 27 de abril de 2013
Deriaene
Se um dia formos velhos, no jardim:
- Como prefererias dizer-me dos teus dias?
Gostar de ti, como gosto. Gostar de ti, Daniela. E fazer-te feliz. Passearmos à sombra dos pinheiros, como quem não tem pressa. E perceber, depressa, que fazemos falta. Que te vou querer, anos volvidos, nos meus braços.
- Faz de mim o teu fogo,
Farei de ti meu ar. E, nesses termos, quando necessário, deixo-te falar só, de mim e de ti.
Quero amar-te sempre. E deixar-te sempre
- Sem fôlego, amor da minha vida.
- Como prefererias dizer-me dos teus dias?
Gostar de ti, como gosto. Gostar de ti, Daniela. E fazer-te feliz. Passearmos à sombra dos pinheiros, como quem não tem pressa. E perceber, depressa, que fazemos falta. Que te vou querer, anos volvidos, nos meus braços.
- Faz de mim o teu fogo,
Farei de ti meu ar. E, nesses termos, quando necessário, deixo-te falar só, de mim e de ti.
Quero amar-te sempre. E deixar-te sempre
- Sem fôlego, amor da minha vida.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Ignis
Que queres que te diga se pintas o silêncio
- E o toque
Com aguarelas despidas; com um tom furtivo como quem não quer a coisa, mas vai querendo, e depois se desnuda à espera dos zumbidos de ouvido com que brindas o momento em que quase descobres o universo
- Que sina a tua,
Essa de querer ser ausente sem saber sê-lo, de querer ser fauna sem lhe tomar o pêlo, de surripiar olhares ausentes nas esplanadas, de querer tudo sem querer nada; onde foste tu, se eu perdi algures o contacto pela escuridão dos dias, pela claridade das noites, se te chamei nomes que não são o teu, que nunca foram o vosso, o deles, se te ofereci vozes que já não querias.
- Agora, foste tu o silêncio, fui eu os dias
Que queres que te diga se olvidas o cheiro como quem desdenha
- E o toque
Como quem não compra nada; como se alguma fez fosses capaz de encontrar melhor
- Ambos sabemos que não encontrarás nada melhor, dentro de ti.
Ou fora.
Ou algures, como se quisesses descobrir-te.
Anda, descobre-te, descobrindo enfim, o que vais perdendo; olharás para trás, e verás cinza e rastos de fogo:
- É que eu sou pirómano, e tu não te deste ao silêncio de me descobrir.
- E o toque
Com aguarelas despidas; com um tom furtivo como quem não quer a coisa, mas vai querendo, e depois se desnuda à espera dos zumbidos de ouvido com que brindas o momento em que quase descobres o universo
- Que sina a tua,
Essa de querer ser ausente sem saber sê-lo, de querer ser fauna sem lhe tomar o pêlo, de surripiar olhares ausentes nas esplanadas, de querer tudo sem querer nada; onde foste tu, se eu perdi algures o contacto pela escuridão dos dias, pela claridade das noites, se te chamei nomes que não são o teu, que nunca foram o vosso, o deles, se te ofereci vozes que já não querias.
- Agora, foste tu o silêncio, fui eu os dias
Que queres que te diga se olvidas o cheiro como quem desdenha
- E o toque
Como quem não compra nada; como se alguma fez fosses capaz de encontrar melhor
- Ambos sabemos que não encontrarás nada melhor, dentro de ti.
Ou fora.
Ou algures, como se quisesses descobrir-te.
Anda, descobre-te, descobrindo enfim, o que vais perdendo; olharás para trás, e verás cinza e rastos de fogo:
- É que eu sou pirómano, e tu não te deste ao silêncio de me descobrir.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Os ares dos tempos
Parece-lhe bem, se nos aventurarmos a beber um café ali no Príncipe Real, como quem outorga os velhos tempos às folhas da lareira e às lascas do carvalho, e depois sorri como criança a quem faltam dois dentes à laia do excesso de doces. Da mesma forma que vamos passeando por Lisboa, e partindo a calçada à nossa passagem, e nos reflexos dos espelhos alheios se vêm os meus passos desertos e sós.
E se lhe for contando, sabe o que é perder minutos, perder anos, perder silêncios com receio de que estar calado pese demais, perder discussões por não querer discutir, perder discussões por falar demais
- Falta-me café!
Mas, deixe-me que a corrija, antes lhe falte o café que o chá, é demasiado triste observar meia dúzia de vaga-lumes a siderar o espaço que me corrige os sentidos, nessa triste demanda de se querer ser fino ou educado, e depois dar, olhe desculpe a expressão, merda; é que esse pormenor não é demasiado simples nem demasiado complexo, é antes descomplexado e pouco simplista se quiser ser educada demais acaba por cair no ridículo da falta de educação
- Não compreendo o que quer dizer
Nem precisa, deixe-me que lhe diga, nem precisa. Nem eu preciso, e nem quero. Passa-me ao lado. É só que eu até gosto das coisas descomplexadas e até prefiro o silêncio à estupidez e nem gosto de responder mal às pessoas e invariavelmente vêm pedir-me explicações e, eventualmente, desculpe lá a expressão, lixam-me o juízo e eu até tenho um certo pendor complicado para me lixarem o juízo, não quero com isto dizer que chegue lá rápido, mas convenhamos que se me apraz o azeite e muito menos o cheiro a mostarda. Não sei se me faço entender, ou se quer compreender a licença que dá a este entulho de gente, perdão, esta amostra de gente, que anda pelos cantos a lamuriar e a ofender o alheio e depois cai de mão beijada, de lábios pintados, de passos distantes tornados presentes, e no fundo, eu só queria um casaco que desse com os sapatos, que fosse de uma cor parecida não precisava ser da mesma, nem sequer precisava de ser parecida, afinal de contas, dizem que preto combina com tudo e contudo tanto se me dá, acho uma daquelas leviandades tremendas, e só hoje me apercebo de que gosto cada vez menos de gente fútil e que amo cada vez mais gente que é simples e sabe viver e dar que viver
- É, uma ironia, realmente.
Pois é, mas sabe que eventualmente é neste limbo que nos resultamos, como químicos falhados, experienciamos mil e uma coisas e invariavelmente a última é sempre a pior, ou das piores, e eu até costumo dar um certo toque intelectual à coisa mas - dá que pensar - a falta de jeito das pessoas é atroz. E digo-lhe mais, como até simpatizo consigo, e merece que lhe diga mais meia dúzia de palavras enquanto brinca com o torrão de açúcar entre os dedos, quase me faz falta chegar à porta e berrar isto tudo; como se merecessem sequer esta meia dúzia de inverdades verdadeiras, e olhe que nem quero remexer nos aterros, mas a esperteza dá-se mal com a pose, e invariavelmente são inversas.
- Mas de que fala afinal?
Olhe, falo da vida. De pessoas. De um todo que nunca existiu e, para outréns, não existirá nunca, porque não sabem mais, não podem mais, não querem mais; contentam-se com o medíocre e nem sabe o que feliz que isso me faz, e querem ser mais e melhores mas não podem, não sabem, não conseguem e são, na ascensão da palavra, incapazes. Desisto, já ninguém quer saber do fio.
E se lhe for contando, sabe o que é perder minutos, perder anos, perder silêncios com receio de que estar calado pese demais, perder discussões por não querer discutir, perder discussões por falar demais
- Falta-me café!
Mas, deixe-me que a corrija, antes lhe falte o café que o chá, é demasiado triste observar meia dúzia de vaga-lumes a siderar o espaço que me corrige os sentidos, nessa triste demanda de se querer ser fino ou educado, e depois dar, olhe desculpe a expressão, merda; é que esse pormenor não é demasiado simples nem demasiado complexo, é antes descomplexado e pouco simplista se quiser ser educada demais acaba por cair no ridículo da falta de educação
- Não compreendo o que quer dizer
Nem precisa, deixe-me que lhe diga, nem precisa. Nem eu preciso, e nem quero. Passa-me ao lado. É só que eu até gosto das coisas descomplexadas e até prefiro o silêncio à estupidez e nem gosto de responder mal às pessoas e invariavelmente vêm pedir-me explicações e, eventualmente, desculpe lá a expressão, lixam-me o juízo e eu até tenho um certo pendor complicado para me lixarem o juízo, não quero com isto dizer que chegue lá rápido, mas convenhamos que se me apraz o azeite e muito menos o cheiro a mostarda. Não sei se me faço entender, ou se quer compreender a licença que dá a este entulho de gente, perdão, esta amostra de gente, que anda pelos cantos a lamuriar e a ofender o alheio e depois cai de mão beijada, de lábios pintados, de passos distantes tornados presentes, e no fundo, eu só queria um casaco que desse com os sapatos, que fosse de uma cor parecida não precisava ser da mesma, nem sequer precisava de ser parecida, afinal de contas, dizem que preto combina com tudo e contudo tanto se me dá, acho uma daquelas leviandades tremendas, e só hoje me apercebo de que gosto cada vez menos de gente fútil e que amo cada vez mais gente que é simples e sabe viver e dar que viver
- É, uma ironia, realmente.
Pois é, mas sabe que eventualmente é neste limbo que nos resultamos, como químicos falhados, experienciamos mil e uma coisas e invariavelmente a última é sempre a pior, ou das piores, e eu até costumo dar um certo toque intelectual à coisa mas - dá que pensar - a falta de jeito das pessoas é atroz. E digo-lhe mais, como até simpatizo consigo, e merece que lhe diga mais meia dúzia de palavras enquanto brinca com o torrão de açúcar entre os dedos, quase me faz falta chegar à porta e berrar isto tudo; como se merecessem sequer esta meia dúzia de inverdades verdadeiras, e olhe que nem quero remexer nos aterros, mas a esperteza dá-se mal com a pose, e invariavelmente são inversas.
- Mas de que fala afinal?
Olhe, falo da vida. De pessoas. De um todo que nunca existiu e, para outréns, não existirá nunca, porque não sabem mais, não podem mais, não querem mais; contentam-se com o medíocre e nem sabe o que feliz que isso me faz, e querem ser mais e melhores mas não podem, não sabem, não conseguem e são, na ascensão da palavra, incapazes. Desisto, já ninguém quer saber do fio.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Retrospectiva do desconhecido
Fosse eu ainda noite e dar-me-ias silêncio; e depois voava-se a parte incerta, e o tempo fazia pouco, como se muito de outrora ainda restasse para findar hoje, como se tudo o que fosse passasse a ser menos ou a não ser, enfim.
- Olha lá, ainda te lembras de quando nevava em Lisboa?
e depois se partia à rua, num apertar de peito petiz; ainda te lembras de quando o céu chorava às vigas à ponte Salazar e as fotografias andavam paradas num mundo sem cor; e se fôssemos nós de outro tempo, de outra vertigem! É que eu nunca me senti pertencer tanto ao hodierno, nem nunca se me fez tanto calor à beira dos dedos, como quando queria ser eu e não era bem e fugia à fumaça de cigarros que iam sendo quase desperdiçados, de tão mal fumados ficavam; E quando fomos a Santa Apolónia deixar um silêncio, fazia ruído de morte e o vento até bulia.
É quase insensato parecermo-nos de sarcásticos, se somos tão puros, tão transparentes enfim; somos como Inverno, como frio passado em brisas cálidas a aliviar sentidos aos que menos sentem; e, mais tarde, viramos flor e folha e enfraquecemos. Nós: e o mundo lá fora.
- Olha lá, ainda te lembras de quando nevava em Lisboa?
e depois se partia à rua, num apertar de peito petiz; ainda te lembras de quando o céu chorava às vigas à ponte Salazar e as fotografias andavam paradas num mundo sem cor; e se fôssemos nós de outro tempo, de outra vertigem! É que eu nunca me senti pertencer tanto ao hodierno, nem nunca se me fez tanto calor à beira dos dedos, como quando queria ser eu e não era bem e fugia à fumaça de cigarros que iam sendo quase desperdiçados, de tão mal fumados ficavam; E quando fomos a Santa Apolónia deixar um silêncio, fazia ruído de morte e o vento até bulia.
É quase insensato parecermo-nos de sarcásticos, se somos tão puros, tão transparentes enfim; somos como Inverno, como frio passado em brisas cálidas a aliviar sentidos aos que menos sentem; e, mais tarde, viramos flor e folha e enfraquecemos. Nós: e o mundo lá fora.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
A neurociência da ilusão
Demos a volta a quatro mortalhas sem saber muito bem a que temperatura se imola o papel; sem saber muito bem de que cor se acendem os teus olhos. Sem saber muito bem a quem pedimos clemência quando erramos. E depois damos voltas sem que os sapatos saibam onde vão terminar; sem que as nuvens chorem à nossa espera. Sem que os cigarros se apaguem violentamente nas nossas peles.
Ó amor, quantos de nós existem para sacrificar ao vento? E quantos cabelos, e quantas peles, quantas vozes; quantas de ti, quantos de mim, quantos de nós. Suspiraria se assim não fosse; afinal a produção morre onde quer que acabem os corpos. E já não estamos vestidos: vestidos de nós, vestidos de seda, vestidos de cetim espalhados pelo chão do quarto; e o que tinhas já não é só meu: agora está espalhado ao mundo, p'ra quem quer que olhe de cima, de lado, de frente, como grãos de areia na costa que desemboca à minha porta.
Toma um pouco do meu café, toma as minhas mãos nas tuas mãos. Toma-me os dedos pelos cabelos. Diz que me vais saudar no dia em que partires deste local, no dia em que partires esta barreira, no dia em que partires deste sentido; e depois ver-te-ei desnuda do outro lado, à espera que amanheça.
É que em ti começa tudo e eu nada sei; nada peço, nada invento.
Limito-me a fumar o meu cigarro à espera que tudo adormeça.
Ó amor, quantos de nós existem para sacrificar ao vento? E quantos cabelos, e quantas peles, quantas vozes; quantas de ti, quantos de mim, quantos de nós. Suspiraria se assim não fosse; afinal a produção morre onde quer que acabem os corpos. E já não estamos vestidos: vestidos de nós, vestidos de seda, vestidos de cetim espalhados pelo chão do quarto; e o que tinhas já não é só meu: agora está espalhado ao mundo, p'ra quem quer que olhe de cima, de lado, de frente, como grãos de areia na costa que desemboca à minha porta.
Toma um pouco do meu café, toma as minhas mãos nas tuas mãos. Toma-me os dedos pelos cabelos. Diz que me vais saudar no dia em que partires deste local, no dia em que partires esta barreira, no dia em que partires deste sentido; e depois ver-te-ei desnuda do outro lado, à espera que amanheça.
É que em ti começa tudo e eu nada sei; nada peço, nada invento.
Limito-me a fumar o meu cigarro à espera que tudo adormeça.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Ignis.
Falta-nos sempre um isqueiro.
Faz-nos falta fogo; depois água que o apague, e um pano que seque a água.
Que nos acendam os cigarros; que nos encham o copo com sempre mais um pouco.
E, posteriormente, quando formos sós, que as cortinas nos apaguem a luz.
Quando deixaremos nós de fazer sentido?
Entristece Selene que por nós espere;
Continuo, contudo, dizendo, que o ideal me comanda
E que nunca me peças que não me dê a ninguém.
Compreende, assim, que nada é teu
E eu tenho pouco que faça sentido para te oferecer.
Ignora a ilusão que te comandou a vida durante décadas:
É que o mundo não foi feito para nós.
Faz-nos falta fogo; depois água que o apague, e um pano que seque a água.
Que nos acendam os cigarros; que nos encham o copo com sempre mais um pouco.
E, posteriormente, quando formos sós, que as cortinas nos apaguem a luz.
Quando deixaremos nós de fazer sentido?
Entristece Selene que por nós espere;
Continuo, contudo, dizendo, que o ideal me comanda
E que nunca me peças que não me dê a ninguém.
Compreende, assim, que nada é teu
E eu tenho pouco que faça sentido para te oferecer.
Ignora a ilusão que te comandou a vida durante décadas:
É que o mundo não foi feito para nós.
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