Fosse eu ainda noite e dar-me-ias silêncio; e depois voava-se a parte incerta, e o tempo fazia pouco, como se muito de outrora ainda restasse para findar hoje, como se tudo o que fosse passasse a ser menos ou a não ser, enfim.
- Olha lá, ainda te lembras de quando nevava em Lisboa?
e depois se partia à rua, num apertar de peito petiz; ainda te lembras de quando o céu chorava às vigas à ponte Salazar e as fotografias andavam paradas num mundo sem cor; e se fôssemos nós de outro tempo, de outra vertigem! É que eu nunca me senti pertencer tanto ao hodierno, nem nunca se me fez tanto calor à beira dos dedos, como quando queria ser eu e não era bem e fugia à fumaça de cigarros que iam sendo quase desperdiçados, de tão mal fumados ficavam; E quando fomos a Santa Apolónia deixar um silêncio, fazia ruído de morte e o vento até bulia.
É quase insensato parecermo-nos de sarcásticos, se somos tão puros, tão transparentes enfim; somos como Inverno, como frio passado em brisas cálidas a aliviar sentidos aos que menos sentem; e, mais tarde, viramos flor e folha e enfraquecemos. Nós: e o mundo lá fora.
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